Sobre o curso

A inversão do processo: por que começar pelo título?

Pode parecer contraditório, mas a proposta do curso e guia Comece pelo título não é especificamente sobre títulos. Bom, também é sobre títulos. Mas não apenas sobre eles. É, acima de tudo, sobre metodologia criativa.

Pense da seguinte forma: há autores que levam meses, anos, até conceber uma grande ideia para um livro. E depois vem o processo de amadurecer a ideia, pensar num título (mesmo provisório), escrever por semanas ou meses e, ao final, talvez mudar o título definitivo. Ou talvez manter o título provisório. Ou ainda considerar outras opções, como alguma referência mais impactante que tenha surgido no processo. Ou entrar em desespero com a dúvida. Mas, como eu disse, minha proposta não é sobre o título, provisório ou não, de sua ideia.

A proposta aqui é sobre algo mais importante: as próprias ideias.

Eis a minha metodologia de trabalho: eu não quero ter que “esperar” uma grande ideia. Eu quero estimulá-la a partir de um prompt criativo. Um ponto de partida que desencadeia uma grande ideia. E meu criador de mundos é um bom título. Como você está acostumado ao modelo clássico, você possivelmente perguntará: como posso ter um título se ainda não tive a ideia? Não devo pensar no título definitivo ao final? Esse é meu ponto. Faça o oposto. Pense num título curioso, atraente, forte, comercial e reflita: que história incrível posso escrever a partir disso?

Foi assim que escrevi dois livros de narrativa longa: “Vê, lá vem Deus”, um hard sci-fi; “Hoje bem que poderia ser sábado”, meu primeiro drama romântico, ainda que contenha elementos de fantasia, e “Minhas conversas com o diabo”, uma coletânea de contos de realismo mágico baseados em demônios da Goétia. Também foi assim que escrevi contos que chegaram a ser finalistas de premiações, como “O vão entre o trem e a plataforma”, de terror dramático, e “Arranha-céu”, uma aventura distópica.

Eu não havia tido, anteriormente, nenhuma das ideias de cada um destes projetos. Eu não sabia que iria escrever cada um de seus enredos. Não imaginei suas tramas em sonhos, inspirações diversas ou referências históricas e culturais. Não até ter os títulos em mãos. Foi a partir deles que desenvolvi suas tramas, e não o contrário. Acredite: eu não faço ideia da história que vou escrever, inicialmente, quando penso em um título.

Mas o título me provoca o suficiente para criar tudo em cima dele.

E, se tem funcionado para mim, pode funcionar para qualquer escritor. E junto com o prompt criativo inicial — o título —, desenvolvi, com bastante eficiência, uma forma sintética e enxuta de trabalho para desenvolver minhas novas ideias a partir de títulos. A chamo de “fluxo de efervescência”. É como uma pastilha de sal de frutas contra acidez do estômago, quando colocada na água: primeiro ocorre a dissolução rápida, depois a reação química efervescente e, por fim, a mistura homogênea.

Explicando a analogia: pegue um título forte e impactante (a pastilha), desenvolva a ideia primordial da obra a partir dela (servir a água no copo), escreva todos os dias, com metas bem definidas de escrita diária, sem parar, por semanas (coloque a pastilha na água e veja a reação química de efervescência) até fechar a primeira versão de sua obra (a solução homogênea).

E porque a analogia com a efervescência da pastilha?

Porque, uma vez iniciada, a reação não deve parar até entrar em equilíbrio.

Neste método, portanto, não existe tanto espaço para “inspiração”. Não há tempo para pensar demais. Não há brecha para mastigar demais o texto. Não se edite. Não olhe para trás. Escreva e escreva sem parar. Você só precisa ter o título, a ideia, uma escaleta de capítulos organizada em três atos principais e um objetivo: terminar a obra de forma ágil, eficiente e efervescente.

Mas antes, vamos começar pela pastilha: o título.